Esperava sentado na cadeira desconfortável da sala de interrogatórios da delegacia. Os olhos azuis acinzentados fixos sobre o bloco de notas sobre a mesa de alumínio. Não gostava muito daquele país desordenado. Seus hábitos ingleses incutiam certa seriedade que ele percebia não haver na terra da oportunidade como poderia perceber. Deixou os olhos correrem do bloco de notas para o relógio de bolso, pendurado numa bela corrente prata. 15h30min. a Avaliação do criminoso, Henrick Joseph Blake estava marcada para as 15h00minh em ponto. O próprio psicólogo estava na instituição faltando 15 minutos, e eles atrasavam. Esperaria mais 15 minutos e caso não aparecessem, iria embora. Uma falta de etiqueta sem limites, para aquelas pessoas. Respirou fundo e o ruído eletrônico da porta que era destravada se poderia escutar, fazendo Glass erguer os olhos na direção da porta. E lá vinha o jovem de expressão doce e incrédulo do que estava acontecendo com ele, as mãos presas pela algema de pés e mãos, na frente do uniforme laranja. Deixou os olhos claros pousarem sobre os olhos do rapaz enquanto ele era conduzido para sentar diante do Dr. Enfim começava a avaliação do suspeito de assassinatos em série Henrick Joseph Blake, Donnald Blake, Donny, The Faces.
Trechos rascunhados do bloco de Notas do Dr. Michael Glass:
“O individuo entrou na sala de interrogatório, exatamente às 15h33minh, sendo escoltado por dois guardas. O que com toda a certeza acarretaria certo desconforto ou mesmo coação.”
“Sentou diante de mim, as pernas fechadas como um animal acuado. Os olhos expressivos denotavam algo de uma inocência fora do comum. Beiravam o lacrimejar, a impressão que daria era a de que ele não sabia o que estava fazendo ali.”
“Quando indagado seu nome, ele respondeu Donnald Terrie Blake... questionei sobre quem seria Henrick Joseph Blake então, ele disse que não sabia e ficou inquieto”
“ “Eu não sei do que estão falando” – resposta para a pergunta : Vc se lembra dos crimes, cometidos? “
“Eles falam que fiz coisas horríveis.. mas não fui eu! Não.. eu não sei do que dizem!” – Insiste em afirmar não recordar-se dos crimes. O que denotaria um sintoma de amnésia. Ou mesmo de dupla personalidade.
Manteve-se calado durante a pergunta sobre sua família, os olhos permaneciam irrequietos.
Repeti a pergunta sobre a família, mudando o foco, mais inquietação.
“ O que tem a minha família a ver com tudo isto, Dr.? Eu quero ir embora.. eles vão me deixar ir embora? Tenho minhas camélias para regar.. “
“Respondi que ele estava sendo acusado de coisas muito graves.. de crimes hediondos, e que ele foi encontrado no local do crime, ele chorou.”
“É ele.. eu sempre digo pra ele me deixar em paz.. mas ele não me deixa, ele me persegue.. ele grita.. ele diz que vai me machucar!” - balançava a cabeça insistentemente com olhar fixo para baixo, e um choro compulsivo.
“ resposta à minha pergunta – O Hank.. ele é ruim.. ele grita.. eu tenho medo dele!”
“ Pq tive medo de que me achasse louco! Ele grita na minha cabeça!! Eu só quero ficar em paz, eu tenho medo!!!” – encolhia-se com os pés sobre a cadeira.”
“Joana D’Arc foi chamada de louca quando ouvia Sta. Catharina.. e o padre Reyes disse que eu não deveria escutar a voz do demônio. É isso que ele é.. um demônio que quer me destruir.”
“ Não sei!! Mas ele grita, ele grita tanto!!!” – as pupilas dilataram-se e ele ergueu a cabeça como se procurasse por algo pela sala.
“ Vc não está escutando? Ele está falando!! “ – tapava os ouvidos com força enquanto erguia-se da mesa. “Não!! Não quero ouvir você!! Vá embora!!! “ – gritava em desespero.
O individuo demonstra um caso patológico de dupla personalidade, mas há algo em seus olhos que predispõe não ser Hank o “demônio” que ele fala, e sim o próprio Donnald.
Ele permaneceu a sacudir a cabeça com as mãos na têmpora por mais alguns segundos, os guardas quiseram entrar eu pedi que não.. que me deixassem ainda mais um pouco. A câmera que registrava a avaliação esteve ligada todo o tempo. E puderam ver a transformação que aquele rapaz sofria diante de mim.
“Já acabou a palhaçada, engomadinho?”
“Donnald?” – Ria “Não.. aquele cagão tá escondido em algum lugar.. ele sempre me chama quando tem medo de algo... se já acabou a palhaçada com o moleque, então, pode ir pra casa, bater uma pra sua mulher... “
Os trejeitos, a forma de falar, tudo se alterava, mas os olhos.. havia algo dos olhos dele, que permaneceram durante toda a avaliação.
Ele sentou na cadeira novamente, quando eu lhe disse que tinha ainda mais algumas perguntas para fazer. Arrastou os moveis fazendo considerável barulho e jogou as pernas sobre a mesa
“tem cigarro?”
“Aquele palerma não fuma, não bebe e nem fode.. por isso a vaca o deixou.. pq ele não fode.. eu fodo.. e muito.. se não tem cigarro, não fode que nem ele!”
“Hank... Hank Blake.. Donnald é o otário que se mija inteiro quando alguém fala mais grosso. “
“Crimes? Que crimes? Não.. foi a puta da Tracy quem matou as mulheres, eu só comi a tracy.. e de manha aquela vaca fugia, deixando uma outra puta no lugar dela..,. logo Dr. Engomadinho, ela matou as mulheres, não eu...”
“Machuquei a tracy sim.. pq ela é uma vadia que abandonou o Donny.. então eu mostrei para ela, várias vezes que ela não prestava.. e pq ela gritava e não gosto quando mulheres gritam, é esganiçado.. é chato.. então a fiz calar a boca algumas vezes sim.”
Entre 17h10min e 17h30min Ele ergueu-se da mesa, puxando-me pelo paletó quando lhe questionei sobre a família da Donny pela quinta vez, a força que o jovem possuía não condizia com a antiga expressão que ele fazia questão de ostentar no inicio da avaliação.
Perguntei novamente a “Hank/Donny” sobre Tracy, e então veio a resposta que viria a me fazer chegar a um posicionamento quanto a este caso.
“Como assim? Está de brincadeira engomadinho? Não estou entendendo a sua pergunta!”
- Quando o questionei a respeito de seu nome de batismo ser Henrick Joseph, logo, não haveria como a citada Tracy ser namorada do Donnald, o que me levou a crer que, em verdade, a patologia violenta de Henrick já existisse e ele criou um alter ego doce, para conquistar a jovem. Donnald Blake é o alter ego de Henrick Joseph. O Hank.
- Laudo avaliado seria inimputabilidade. Henrick Joseph Blake é indisposto de sua Faculdade Moral, caracterizado como psicopata primário, malévolo e dissimulado.
- Sociopatia
- Estrutura Antisocial propriamente dita./ Amoralidade – incapacidade de identificação dos valores morais.
- narcisismo maligno – encanto superficial e dissimulado. – Henrick se tornava Donnald para encantar suas vitimas.
Segundo histórico familiar apresentado pela investigação policial a respeito da infância de Henrick, pode-se perceber desde os 09 anos um comportamento de insensibilidade por atos de crueldade praticados contra animais de estimação.
O individuo é uma pessoa doente. Não ciente dos atos que pratica. Portanto é de opinião médica que seja encaminhado para um manicômio judiciário para ser submetido a tratamentos e mantido afastado de outros indivíduos, potencialmente manipulados. Haja visto que a pena de morte não mais se aplica a este Estado, é altamente indicado que não seja colocado em um presídio com presos convencionais. Individuo de alta periculosidade e de impossível correção a respeito de sua sociopatia. Individuo intelectualmente privilegiado. Manipulador e dissimulado possuindo uma anomalia estrutural da personalidade tal como uma autêntica doença mental.
Dr. Michael Glass